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Abordagem centrada, baseada e focada na ocupação?

A função de um Terapeuta Ocupacional é, sem discussão, realizar uma abordagem baseada e focada na ocupação. No entanto, nem sempre a resposta a esta função é a mais adequada, sendo que por vezes o foco da nossa intervenção são os componentes e não a ocupação, o que vai contra a essência da Terapia Ocupacional. Além disso, a terminologia que usamos não é clara. Qual é a diferença entre uma abordagem centrada, baseada ou focada na ocupação?

Tendo em conta estas questões, faremos algumas reflexões com base no artigo “Occupation-centred, occupation-based, occupation-focused: Same, same or different?” de Anne G. Fisher.

Fisher (2014) começa por referir que os termos “centrado”, “baseado” e “focado” têm sido utilizados por Terapeutas Ocupacionais como se fossem sinónimos, no entanto sugere que sejam definidos como únicos e diferentes.

Centrado na Ocupação

O termo “centrado na ocupação” deve ser comum a todos os Terapeutas Ocupacionais, uma vez que significa que a ocupação é de “primordial importância e uma fonte de onde algo é originado” (Fisher, 2014, p. 97). Se para a Terapia Ocupacional a ocupação deve ser o centro de toda a sua intervenção, isso significa que os conhecimentos específicos de outras áreas profissionais, modelos e técnicas, devem ser utilizados em benefício da ocupação e não o contrário, devendo esse raciocínio ser explícito.

Baseado na Ocupação

Segundo Fisher (2014, p. 98) “ser baseado significa ter algo como ingrediente principal ou parte fundamental”. No caso dos Terapeutas Ocupacionais, o ingrediente principal deve ser sempre a ocupação, quer na avaliação, quer na intervenção.

Quando falamos na avaliação, podemos referir que esta é baseada na ocupação quando utilizamos a análise do desempenho e da atividade para avaliar os componentes e o ambiente. Já no caso da intervenção, podemos referir que esta é baseada na ocupação quando é utilizado o envolvimento do cliente numa ocupação significativa.

A utilização de métodos de avaliação e intervenção baseados na ocupação tem três grandes vantagens:

  1. Realizar uma avaliação e intervenção baseadas na ocupação reforçam o valor que os Terapeutas Ocupacionais atribuem à ocupação, principalmente perante outros profissionais. Basear a abordagem na ocupação ajudará a definir melhor a identidade do profissional;

  2. Realizar uma avaliação baseada na ocupação permite ao Terapeuta Ocupacional avaliar o desempenho ocupacional e não apenas o resultado. Isto é, enquanto na aplicação de um teste padronizado é avaliado se a pessoa consegue ou não realizar a sua higiene pessoal de forma independente, na avaliação baseada na ocupação, o Terapeuta avalia qual o desempenho em cada tarefa envolvida, os fatores pessoais e o ambiente, conseguindo uma avaliação mais rica;

  3. Realizar uma intervenção baseada na ocupação permite que a mesma ocorra no contexto terapêutico da mesma forma que ocorre no contexto diário do cliente, que vá ao encontro dos objetivos do cliente e que apele ao envolvimento ocupacional.

 

Para facilitar a compreensão deste conceitos, deixamos aqui um exemplo:

Focado na Ocupação

Segundo Fisher (2014, p. 100), ser focado na ocupação é “dar foco a algo e concentrar a atenção nisso”. A melhor prática possível em Terapia Ocupacional será aquela em que o foco imediato é a ocupação “aqui e agora” (Fisher, 2014, p.100), não o que poderá acontecer no futuro. Isto significa que não é aceitável para uma prática focada na ocupação, um dos objetivos de intervenção ser, por exemplo, “a melhoria na amplitude de movimento, porque irá promover o desempenho ocupacional futuramente”

A abordagem focada na ocupação é, talvez, um dos conceitos mais difíceis de compreender, entre os três em questão. De uma forma simplista, realizar uma prática focada na ocupação significa que a avaliação e a intervenção deve ser sempre realizada na ocupação.

Por exemplo, imaginemos um cliente cujo problema ocupacional identificado é não ser capaz de alcançar as chávenas de café, a avaliação seria:

 

Já no que diz respeito à intervenção:

 

 

De uma forma geral, o objetivo da avaliação e intervenção em Terapia Ocupacional deve ser sempre a ocupação, e não a melhoria dos componentes ou a adaptação do ambiente.

Preparámos uma tabela que ajuda a compreensão dos conceitos de baseado e focado na ocupação:

Conclusão

O artigo que aqui abordamos refere outros tópicos de extremo interesse e importância que aconselhamos a leitura atenta.

Consideramos os três conceitos aqui abordados como essenciais para uma prática contemporânea que respeite o paradigma atual e a identidade da profissão. Defendemos que cada Terapeuta Ocupacional deve respeitar a perspetiva e filosofia única da Terapia Ocupacional e centrar a sua prática na ocupação; que deve realizar uma avaliação e intervenção baseadas na ocupação; e que o foco da abordagem deve ser sempre a ocupação e nunca os componentes ou o ambiente.

 

Bibliografia

Fisher, A. (2014). Occupation-centred, occupation-based, occupation-focused: Same, same or different?. Scandinavian Journal of Occupational Therapy, 21, 96-107.

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