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Medo de ser velho

Vivemos numa sociedade que perpetua a juventude, que inventa mil e um produtos para nos mantermos jovens. Vivemos numa sociedade com medo da palavra velho, trocada por idoso e mais recentemente por pessoa idosa. Porquê?

 

O que é para vocês ser idoso?

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Gostava que pensassem algum tempo sobre esta questão, antes de avançarem nesta pequena reflexão pessoal.

A Organização Mundial de Saúde convencionou que, nos países desenvolvidos, a 3º idade começa a partir dos 65 anos. E a meu ver, idoso é isso, alguém que tem mais de 65 anos. Alguém com histórias, com vivências, alguém que já viveu mais do que irá viver dali em diante. Não vamos ser hipócritas, esta fase também se caracteriza por perdas, de capacidades, de competências e possivelmente de funcionalidade. Mas ser idoso ou velho (sem medo de usar as palavras) não é nem pode ser só isso. Aliás quero acreditar que é mais, com o bom e mau que caracteriza todo o ciclo da vida. Existirão pessoas idosas doentes, com menos autonomia e independência, como existirão pessoas idosas desportistas, gestoras de negócios, membros de associações, ativas na comunidade e na vida familiar. Existirá de tudo, como em todas as outras etapas, mas com a vantagem de terem mais sabedoria.

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A minha avó tem 81 anos, gere as contas da casa, realiza as tarefas domésticas, cuida do meu avô, agora dependente, gosta de estar informada desde a política ao desporto, vai ao cabeleireiro e gosta de se arranjar com umas roupinhas novas. É velha. Não tenham medo. A minha avó é velha, tal como a maioria dos avós. Ser velho é apenas isso, não é mau, nem menos. Não é feio, nem incapaz; não é doença. E não estou a ser desrespeitadora, nem julgo, nem desprezo. Ser velho é ter mais idade, é ser-se sábio e acima de tudo ser-se mais diferenciado, com hábitos, rotinas, interesses e características próprias muito vincadas, mas parece que, cada vez mais, os tratamos de igual forma.

 

Se perguntar à maioria das pessoas, ser velho é estar doente, é não trabalhar, é estar só, é perder autonomia e independência. É andar com dificuldade, é esquecer-se das coisas. Também será, em muitos casos certamente, mas há que criar condições para ser menos do mau e mais do bom.

 

Comecemos por deixar de ter medo de sermos velhos e de aceitarmos as palavras sem os preconceitos a que a elas se colam. Os velhos de amanhã serão diferentes dos velhos de hoje mas não deixarão de existir.

 

Assim, o meu conselho de hoje é: respeitem e ajudem os velhos como sábios que são, sabendo previamente que existem momentos difíceis, que às vezes parece já não valer a pena, que as respostas e recursos são ainda tão poucos, mas acreditando que mudar comportamentos leva à mudança de mentalidades. Façam diferente. 

 

Este país também tem de ser para velhos.

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