CRÓNICAS OCUPACIONAIS
Terapia Ocupacional
Terapeutas Ocupacionais: O que nos torna únicos?
A Terapia Ocupacional já foi muitas vezes descrita como uma profissão complexa e de difícil compreensão. Embora as definições desta profissão possam ser variadas, a filosofia e o que guia os Terapeutas Ocupacionais na sua prática manteve-se, na maioria, igual ao longo do último século. Mas cada vez mais se levanta a questão acerca do papel de um Terapeuta Ocupacional e quais as suas competências únicas, principalmente tendo em conta os problemas de identidade profissional.
Assim sendo, arriscamo-nos a questionar quais é que são para si as competências únicas de um Terapeuta Ocupacional e deixamos-lhe aqui algumas considerações de autores conceituados:
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Na década de 1930, os Terapeutas Ocupacionais começaram a utilizar atividades criativas com o objetivo de promover o prazer e a saúde, o que possibilitava uma transformação ao nível do bem-estar.
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Mais tarde, o Reino Unido reconheceu a Terapia Ocupacional, afirmando que os seus profissionais eram pessoas com “qualidades especiais de caráter e temperamento”, que eram sujeitos a exigências físicas e psicológicas na sua prática (Macdonald, 1976, citado por Turner & Alsop 2015).
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Em 1983, Judith Farell no Casson Memorial, referiu que o uso de atividades comuns de forma terapêutica era o que distinguia um Terapeuta Ocupacional. Estes profissionais devem ser responsáveis pela elaboração de pesquisa que comprove as suas abordagens com evidência científica (Farell, 1983 citada por Turner & Alsop 2015).
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Além disso, outras competências essenciais ao Terapeuta Ocupacional são a capacidade para motivar, a comunicação, a avaliação, o estabelecimento de objetivos realísticos, ensinar, observar e reportar os resultados (Grove, 1988 citado por Turner & Alsop 2015).
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Mais tarde, foram definidas como competências únicas a avaliação do desempenho ocupacional e a utilização de atividades que facilitem a mudança (Thorner, 1991 citada por Turner & Alsop 2015).
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Já em 1997, Hollis acrescentou à lista de competências essenciais a criatividade e originalidade no decorrer do processo terapêutico (Hollis, 1997 citado por Turner & Alsop 2015).
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Em 2001 houve uma grande mudança para os profissionais de saúde e, em especial, para os Terapeutas Ocupacionais: a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a relação entre saúde, atividade e participação em ocupações, sendo desde esse momento essencial que todos os profissionais de saúde compreendessem o impacto ocupacional de qualquer condição de saúde (OMS, 2001 citada por Turner & Alsop 2015).
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Creek (2003, citada por Turner & Alsop 2015) define que as competências essenciais para um Terapeuta Ocupacional são a colaboração com o cliente, a avaliação, capacitação, resolução de problemas, utilização de atividades como ferramentas terapêuticas, trabalho em grupo e adaptação do ambiente.
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Nicholson (2007, citado por Turner & Alsop 2015), concluiu que enquanto os outros profissionais vêem a ocupação como um objetivo, uma meta, nas suas intervenções, os Terapeutas Ocupacionais assumem a ocupação como a área na qual são especialistas, valorizando-a como ferramenta terapêutica.
Como podem aferir da leitura destes pontos que pertencem à revisão da literatura de Turner e Alsop, existe uma diferença entre competências essenciais e competências únicas, já que no que diz respeito às competências essenciais, qualquer profissional de saúde as poderá e deverá ter.
As autoras concluíram que as competências únicas de um Terapeuta Ocupacional compreendem o processamento e integração, através do raciocínio, dos conhecimentos e teorias únicas sobre ocupação na prática profissional, adaptadas a cada cliente de forma individualizada. Infelizmente, estas competências não são visíveis por outros profissionais de saúde, o que dificulta a compreensão da profissão.
O desafio para todos os Terapeutas Ocupacionais é tornar as suas competências “invisíveis” em “visíveis”, utilizando linguagem específica nos seus discursos, palestras, avaliações, relatórios, reuniões, entre outros. Além disso, devem mostrar que existe evidência científica a suportar a sua prática, sempre que possível.
Texto baseado no artigo: Turner, A. & Alsop, A. (2015). “Unique core skills: exploring occupational therapists’ hidden assets”. Bitish Journal of Occupacional Therapy, 78 (12), 739-749.